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Pessoa não binária: entender e respeitar

18 de junho de 2021

Saiba mais sobre o termo “pessoa não binária”, uma classificação guarda-chuva que foi adotada por celebridades como Bárbara Paz e Demi Lovato.

Nem azul, nem rosa: roxo. Pessoas não binárias vão além das definições dos discutíveis papéis sociais dos gêneros masculino e feminino. O termo é um guarda-chuva que engloba uma série de formas de se existir e expressar em termos de gênero.

Ou seja, existe uma diversidade de formas de se experienciar o gênero, e não apenas uma terceira via. São mais de 60, na verdade.

Entre tantas possibilidades, uma coisa é certa: a pessoa não binária (ou não binarie, como alguns preferem) não se enquadra nem no gênero masculino, nem no gênero feminino. Ela se identifica de alguma outra forma, que pode ser considerada neutra em relação a essas duas opções.

Está achando complicado de entender? Vem com a gente que vamos esclarecer todos os detalhes sobre esse assunto para você. Confira a seguir! 

Definição de pessoa não binária

O mais comum, na nossa sociedade, ainda é uma definição de gêneros binária. Nessa definição, alguém se classifica no gênero masculino ou no gênero feminino. O termo guarda-chuva “pessoa não binária” é útil porque permite se referir, de forma ampla, a uma série de pessoas que não se encaixam nessas duas possibilidades.

Por isso, mesmo sabendo que não existe apenas uma realidade de identificação de gênero associada à não-binariedade, ele persiste como uma forma aceita e adotada pela comunidade. Essa abordagem começou a aparecer nos estudos de gênero a partir da década de 80, e outro termo bastante usado para se referir a essa identificação de gênero é “genderqueer”.  

Essas pessoas podem se identificar tanto com o gênero masculino como com o gênero feminino. Elas podem, também, se colocar em algum lugar entre esses dois gêneros. Ou, ainda, é possível que elas não se identifiquem de forma alguma com nenhum dos dois gêneros.

Exemplos

Para ficar mais claro, vamos definir, apenas como exemplos, algumas identificações de gênero que não se enquadram na binariedade: 

  • Agênero: não se identifica com nenhum gênero, sob nenhum aspecto;
  • Andrógine: identifica-se parcialmente com o gênero feminino e parcialmente com o gênero masculino;
  • Neutrois: tem características tanto do gênero feminino, como do gênero masculino, mas não é nenhum dos dois;
  • Bigênero: a pessoa se identifica tanto com o gênero masculino como com o gênero feminino;
  • Gênero fluido: a identidade de gênero pode mudar ao longo da vida, em diferentes velocidades e frequências para cada pessoa e é, portanto, fluida;
  • Demigênero: tem uma identidade de gênero parcial, sendo uma parte de um gênero e uma parte desconhecida;
  • Poligênero: tem uma identidade de gênero múltipla, abarcando diferentes possibilidades além do masculino e do feminino. 

Esses são apenas alguns exemplos, nosso objetivo não é esgotar as definições aqui. Mas, assim, esperamos que você tenha uma ideia do quanto de diversidade pode existir quando falamos sobre identidade de gênero.

Mas o que é gênero, afinal?

De forma bastante simplificada, podemos dizer que gênero é uma forma de agrupar os indivíduos em uma categoria a partir da sua forma de existir e se expressar no espectro das características atribuídas socialmente a diferentes sexos. 

O que é importante entender dessa definição? O principal aspecto é que o gênero é socialmente construído. Ou seja, ele é diferente do sexo que o indivíduo expressa a partir de suas características físicas ao nascer. 

O gênero diz respeito a tudo que a sociedade espera de um determinado sexo – desde os cores ou tipos de roupa que a pessoa vai usar, até como ela vai se comportar e ser tratada em diferentes situações.

Assim, uma pessoa pode nascer, do ponto de vista genético e morfológico, com o sexo feminino, masculino, ou intersexo. Mas o gênero é aquilo que a sociedade faz com isso.

A identidade de gênero é como a pessoa se enxerga no espectro de gêneros existente. Então, ela pode ter nascido com um determinado sexo e ter sido criada a partir de uma definição de gênero correspondente, mas não se enxergar dessa forma.  

Linguagem neutra

Qual é a maneira correta para se referir a uma pessoa não-binária? E a uma pessoa de gênero desconhecido ou não especificado?

Essa é uma discussão que permeia os meios acadêmicos e sociais atualmente. Para não ter erro, quando vamos conversar com alguém, a melhor ideia é perguntar para a pessoa como ela prefere ser tratada. 

Isso porque, mesmo entre pessoas não binárias, existe uma diversidade de preferências sobre a forma de tratamento.

Além disso, não existe, ainda, um consenso sobre como utilizar uma linguagem neutra em português. Algumas possibilidades são as seguintes. 

Linguagem inclusiva

Pode-se usar uma linguagem inclusiva sem modificar as regras da norma culta da língua portuguesa. Para fazer isso, deve-se escolher formas que não especificam o gênero, mas sem alterar a maneira de escrever as palavras.

É o que fazemos, por exemplo, quando nos referimos, aqui no blog, a “seu par” em vez de “seu parceiro” ou “sua parceira”. 

Usar X e @

Essa é uma alternativa mais antiga para neutralizar as palavras, que deve cair em desuso. Isso porque essa não é uma boa opção, porque não é possível pronunciar as palavras quando se usa essa abordagem. 

Assim, além de não servirem para a linguagem falada, essas formas de neutralização da linguagem são excludentes. Os textos que as utilizam são menos acessíveis para pessoas com deficiência visual, por exemplo, que utilizam programas de leitura para navegar pela internet. Elas podem ser um problema, também, para pessoas neurodiversas, que tenham uma maior dificuldade de interpretação de texto. 

Alterações sistemáticas na ortografia de palavras

É possível alterar a ortografia das palavras de forma sistemática, para substituir as terminações que designam um gênero por uma terminação considerada neutra. É o que acontece, por exemplo, nos seguintes casos:

  • Uso de “elu” em vez de “ele” ou “ela” ou de “delu” em vez de “dele” ou “dela”;
  • Usar “ile” ou “dile”, seguindo o mesmo raciocínio;
  • Utilizar “e” como terminação para palavras terminadas em “a” ou “o”, como em “mesme” em vez de “mesma” ou “mesmo”;
  • Escolher a terminação “ie” no caso de palavras em que o “e” indica o masculino, como em “estudanties”;
  • Substituir as terminações “ão” e “ã” por “ane”, como em “irmane” e “irmanes” em vez de “irmão(s)” ou “irmã(s)”.

Relação entre gênero neutro e transgênero

Transgênero é uma pessoa que não se identifica completamente com o gênero que lhe foi atribuído ao nascer. Dessa forma, uma pessoa transgênero pode ser binária, caso se identifique com o gênero oposto ao qual recebeu na sua criação.

No entanto, uma pessoa transgênero pode também não se identificar completamente nem com o gênero masculino, nem com o feminino. Nesse caso, ela será uma pessoa não binária.

Assim, podemos entender que o termo transgênero é mais abrangente e inclui tanto pessoas binárias trans como pessoas não binárias. 

O mais importante é como a pessoa se identifica e atribui a questão de gênero a si mesma. Essa não pode ser uma imposição social, e sim algo que parte do próprio indivíduo, da maneira como ele se enxerga e existe no espectro das diversas expressões de gênero.

Cabe ressaltar, também, que não existe uma relação obrigatória entre expressões transgênero binárias ou não binárias e alterações no próprio corpo, como uso de hormônios ou cirurgias de mudança de sexo. 

Esses procedimentos podem ou não ser realizados em cada caso. Quando são feitos, eles podem ter relação com a identificação de gênero do indivíduo ou podem ser uma decisão puramente estética.  

Diferença entre identidade de gênero e orientação sexual

Identidade de gênero tem a ver com como uma pessoa se enxerga no que se refere aos diferentes gêneros – masculino, feminino ou uma das manifestações de neutralidade. 

A orientação sexual, por outro lado, está relacionada com a atração afetiva e sexual. Ou seja, se a pessoa se sente atraída por homens, mulheres ou pessoas não binárias. 

Então, uma pessoa não binária pode ter diferentes orientações sexuais ou mesmo ter uma sexualidade fluida. Não existem regras quanto a isso. 

Dia Internacional da Pessoa Não Binária

Celebrado todos os dias 14 de julho, o Dia Internacional das Pessoas Não Binárias existe para aumentar a conscientização sobre os direitos desse público. 

As pessoas não binárias enfrentam muitos problemas no seu cotidiano. Essa é, portanto, uma das formas de tentar se organizar e mobilizar para dar mais visibilidade para essas questões e para resolvê-las.

Na maior parte dos países do mundo, por exemplo, o gênero não binário não existe na lei. Isso quer dizer que, em seus documentos, as pessoas não binárias precisam escolher se identificar no masculino ou no feminino – algo que não condiz com a forma como elas se expressam e existem no mundo.

Dessa forma, é preciso que exista uma mobilização organizada para que as pessoas não binárias consigam ter o direito a documentos que reflitam a sua identidade. Essa atuação também ajuda a aumentar o conhecimento do público para a aceitação e pela luta contra a discriminação. 

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Agora que você já entende melhor o que significa ser uma pessoa não binária, que tal continuar desconstruindo as concepções tradicionais que classificam o ser humano e compreender mais também sobre o significado de sexualidade

Nós já abordamos aqui no blog temas como sexualidade fluida, demissexualidade, pansexualidade e bissexualidade, que podem ser assuntos do seu interesse.

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